segunda-feira, 21 de novembro de 2011

a Roupa Nova do Rei

Há muito tempo viveu um imperador que gostava tanto, mas tanto, de se
vestir bem que todo dinheiro dele ia embora com roupa nova.
Na grande cidade onde ele morava havia muitas coisas interessantes
acontecendo e todo dia chegava visita importante. Um dia apareceram dois
vigaristas. Os dois espalharam pela cidade que eram tecelões e que sabiam
fabricar os tecidos mais lindos do mundo. Tecidos com cores e estampas
maravilhosos. E com um detalhe: as roupas feitas com os tecidos que eles
fabricavam eram invisíveis para as pessoas que não soubessem trabalhar
direito ou que fossem muito burras.
“Essas roupas, pelo jeito, são o máximo”, pensou o imperador. “Se eu
usasse essas roupas ia poder descobrir quem não trabalha direito no meu reino
e saber quem é burro e quem é inteligente. É, vou mandar tecer o tal pano
imediatamente.” E deu um montão de dinheiro aos dois vigaristas para que eles
fossem começando o trabalho.
Os dois vigaristas armaram seus teares e fingiram que estavam
trabalhando. Nos teares não tinha nenhum fiapo. Nada. Eles passavam o
tempo todo mandando buscar a seda mais luxuosa e o fio de ouro mais
deslumbrante, só que guardavam tudo em suas bolsas e ficavam até tarde da
noite trabalhando nos teares vazios.
“Ah! Como eu queria saber de que jeito está ficando o famoso tecido”,
pensava o imperador.
“Vou mandar o meu velho ministro que é tão direito ao ateliê dos
tecelões”, pensou o imperador. Ele é a pessoa mais indicada para ver como é
esse pano, pois é inteligente e ninguém faz seu trabalho melhor que ele.”
Assim, o velho ministro de quem o imperador gostava tanto foi até a sala
onde os dois tecelões estavam sentados trabalhando na frente dos teares
vazios. “Oh, meu Deus!” pensou ele, arregalando os olhos. “Não consigo ver
nada!” Mas não abriu a boca.
Os dois tecelões convidaram o ministro a chegar mais perto e quiseram
saber se ele não achava que o estampado estava lindo e as cores um encantoe
apontaram para o tear vazio. O pobre velho ministro arregalou ainda mais os
olhos mas não conseguiu ver coisa alguma, pois não havia nada para ver.
“Puxa vida!, pensou. “ Será que sou burro? Nunca achei que era burro. Preciso
dar um jeito para ninguém descobrir. Será que não faço meu trabalho direito?
Não, não posso dizer a ninguém que não consigo ver o pano”
— E então? O senhor não vai dizer nada? — disse um dos tecelões.
— Ah, que coisa linda, divina! Uma absoluta maravilha! — disse o velho
ministro, olhando atentamente através das lentes de seus óculos. — Que
estampado! Que cores! É, não há dúvida, vou dizer ao imperador que o tecido
tem minha total aprovação.
Todos na cidade só falavam no esplêndido pano.
Até que um dia o imperador resolveu ir pessoalmente dar uma olhada no
tecido ainda no tear.
“Que droga é essa?, pensou o imperador. “ Não estou vendo nada! Isso
é terrível! Sou burro? Não sirvo para imperador? Mas isso seria a coisa mais
pavorosa que poderia acontecer comigo!”
Depois disse:
— Ah, que lindo! Os senhores têm minha imperial aprovação! — E
balançava a cabeça satisfeito, olhando o tear vazio. Imagine se ele ia dizer que
não estava vendo nada!
Os nobres que acompanhavam o imperador fizeram muita força, mas
exatamente como os outros, não conseguiram ver nada; mesmo assim,
exatamente como o imperador disseram:
— Ah! Que lindo! — e deram a idéia ao imperador de inaugurara aquelas
roupas esplêndidas no grande desfile do dia seguinte. — É lindo, magnífico,
sensacional.
No dia seguinte o imperador, acompanhado pelas pessoas mais
importantes de sua corte, foi à sala do tear. Cada um dos tecelões levantou um
braço levantou um braço, como se estivesse segurando alguma coisa, e disse:
— Pronto! Aqui está a calça. Aqui está a casaca. Aqui está a túnica. E
assim por diante. — Leves como gaze. Vossa majestade vai ter a impressão de
que não tem nada sobre o corpo, mas aí é que está a beleza da coisa!
— É — disseram os cortesãos, sem conseguir ver nada. Lógico! Não
havia nada para ver!
— Será que Vossa Alteza Imperial poderia ter a bondade de tirar a
roupa? — disseram os tecelões. — Para que a gente possa ajudar Vossa
Alteza a vestir as novas aqui na frente do espelho!
O imperador tirou a roupa toda e os tecelões fazendo a maior cena:
fingiam que estavam entregando a ele uma por uma as peças de roupa que
todos achavam que eles tinham feito e o imperador se virava e se contorcia na
frente do espelho.
Os valetes a serviço do imperador roçaram as mãos pelo chão como se
estivessem recolhendo a borda do manto. Depois foram andando com as mãos
erguidas, pois não queriam de jeito nenhum que os outros percebessem que
não estavam conseguindo ver nada.
O imperador desfilava debaixo do lindo dossel, e nas ruas e janelas
todos diziam:
— Vejam! Que beleza a roupa nova do imperador! Que cauda mais
bonita tem sua túnica! Que caimento!
Ninguém via nada, mas ninguém queria que os outros percebessem.
Claro! Só não viam os muito burros ou os que não faziam seus trabalhos
direito. Nunca uma roupa do imperador fez tanto sucesso quanto aquele.
— Mas ele está sem nada! — disse uma criança pequena.
— Nossa, ouçam o que disse esta inocente! — disse o pai da criança.
E as pessoas começaram a repetir umas para as outras as palavras da
criança até que o povo inteiro começou a gritar:
— Mas ele está sem nada!
O imperador sentiu o sangue gelar, pois percebeu que todo mundo tinha
razão, mas pensou consigo: “Agora preciso continuar até o fim do desfile”.
E os valetes iam andando atrás, carregando uma cauda que
simplesmente não existia.
ANDERSEN, H. C. Histórias Maravilhosas de Andersen. São Paulo: Companhia das Letras,

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