segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Bela Adormecida no Bosque

O imperador dos turcos, Tamerlão I, e a rainha, sua mulher, desesperaram-se por não ter filhos. Já estavam de todo sem esperança, quando veio ao mundo uma interessante filhinha.
            Foi indizível a alegria dos pais, e decretaram-se festejos pomposos para celebrar o nascimento da pequenina, e o seu batizado, dias depois.
            As fadas do país foram convidadas para a festa, mas, por esquecimento, ou pela pouca importância que lhe davam, esqueceram de mandar convite a uma delas, feira e velha.
            No dia do batizado compareceram todas, e vaticinaram à jovem Ires todas as felicidades, desejando-lhe formosura, beleza, fortuna, bondade, talento, um noivo rico.
            Quando a última acabou de falar, apareceu a velha fada, que exclamou:
− A boda e batizado não vá sem ser convidado... Mas eu vim, porque também quero fazer o meu presente à jovem Ires. Desejo que, quando chegar à idade de dezesseis anos, pique a mão num fuso, do que morrerá.     
            Ficaram todos consternadíssimos com tal profecia.
            Uma fada, porém, que já conhecia quando era perversa sua má companheira, e imaginando que seria capaz de alguma partida, havia se escondido, e surgiu depois dela.
            − Falo eu ainda, que nada ofereci à princesa. Não tenho poder pra destruir completamente o mau agouro da minha colega, mas m=posso modificá-lo Ires não morrerá, mas há de adormecer durante cem anos, até que um príncipe e formoso venha despertá-la, casando-se com ela.
            Tamerlão I baixou imediatamente um decreto, proibindo, sob pena de morte, o uso da roca e do fuso.
            Ires cresceu, cheia de bondade, formosíssima, espirituosa e querida de todos.
            Um dia, porém, quando já havia feto dezesseis anos, andando a passear pelo campo, entro numa choupana habitada por uma velhinha, que se achava fiando, por ignorar o édito imperial.
            Curiosa daquilo que nunca tinha visto, pediu para ver o fuso, e sem jeito nenhum, picou-se no dedo. Caiu para trás, desfalecia.
            O rei lembrou-se da profecia, e vendo que todos os esforços e cuidados eram inúteis para despertá-la, mandou que transportassem para o palácio.
            A boa fada, que destruiu em parte o encanto da bruxa, apareceu. Preveniu que, devendo ela dormir um século, ao despertar ficaria triste, não conhecendo mais ninguém.
            Usando o seu poder, transformou fidalgos, lacaios e criados, o rei e a rainha, em estátuas de mármore.
            Em torno do palácio cresceu um matagal tão espesso, tão cerrado, que o majestoso edifício não podia ser visto da estrada.
            Decorreram cem anos.
            Ires continuava a dormir, conservando sempre as mesmas faces cor-de-rosa, lábios vermelhos e cabelos louros.
            Um dia o filho de um rei, que então governava os turcos, andando a caçar, avistou casualmente no meio do bosque, as elevadas torres do palácio.
            Perguntou o que era, e ninguém sabendo informar, embrenhou-se com afoiteza pela floresta, cujos ramos se abriam para deixá-lo passar.
            Avistou o palácio, que se conservava no mesmo estado, e ficou estupefato perante a beleza do que via, admirando-se das estátuas de mármore – umas sentadas, outras deitadas, em atitude de conversa, algumas.
            Entrou pelas salas a dentro, e, quando chegou ao quadro da princesinha, ficou deslumbrado.
            Assim que se aproximou, a formosa jovem falou-lhe muito naturalmente:
            − Tardaste tanto, príncipe! Há muito que te esperava
             Havia terminado o encanto.
            Todo o palácio acordou daquele longo sono de cem anos.
            Tamerlão e sua mulher, que julgavam ter sabido do desmaio da filha poucos minutos antes, ficaram admirados vendo-a conversar com um estrangeiro, vestido inteiramente fora da moda, que não conheciam.
            Mas a boa fada apareceu e explicou o que se havia passado.
            O casamento de Ires com o príncipe Heitor efetuou-se um mês depois, com um brilhantismo que hoje não existe, nem mesmo nos países do Oriente.

Figueiredo Pimentel

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